15.5.19

Não estrela cadente

No meu posto solar
soldado desarmado me apresento
tirando à sorte
se é da sorte que o dia vem falar. 

Já disse 
do muito que se pode dizer:
fui viajante em lugares muitos
de mitos recebi desmentidos
ouvi uma constelação de idiomas
e das paisagens tantas guardo os retalhos,
a minha geografia privativa
em orquestra afinada com gramática a condizer. 

Deste promontório em que sou sozinho
bebo as paisagens que me cercam,
vagarosamente. 
O vento capital esbraceja a fúria 
forçado que foi a ascender à cumeada;
esbofeteia quem ousou ser como ele, 
ousado,
mas não é infortúnio que emudeça 
a voz todavia contida
que amanhece as estrofes cinzeladas
no pontiagudo chão que recebe os pés. 

Sou
antítese de uma estrela cadente
o guardião da memória embaciada
a árvore frondosa na estepe
o caudal cheio ferindo o calcário
o tirocínio inacabado
a estola pousada no rosto encimado
as cinzas vetustas encomendadas aos meãos
e sou
matéria absoluta
campeão das interrogações
bactéria benigna
semente desfolhada nas mãos ávidas
contrato sem papel em assinatura falada
húmus da bondade discreta 
ponteiro do relógio sem paradeiro certo
novo de mais para desaprender
velho de mais para renunciar
miradouro de peito aberto
conspiração contra mim mesmo.

Das teias expostas
em citações ao acaso
obtenho o ouro perdido,
eu:
nómada fecundo
voz murmurada ao ouvido da noite
iracundo domesticável
e não,
estrela cadente, 
não.
Pois tenho este esplendor
guardado na ossatura funda
o esplendor que contudo se aviva no olhar
contra as homilias que atentam contra
joeirando as limalhas que rimam
com os contratempos.

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