21.5.19

Malvasia

Vou ao batistério
onde as águas são suores acusados
e enfeito a voz com uma magnólia. 

As unhas algemadas
contêm o sorriso alarve dos peritos
e da máscara avinagrada
retenho o ócio simpático. 
Estas são 
as escadas da discórdia
o penhor das alimárias candentes
o canto empenhado da voz seguinte
um certo dadaísmo sem inventário
a tenaz apertada à boca de cena.

Roubo a faca ao ladrão
e não é crime o que cometo;
as desculpas
guardo-as para segundas núpcias
aquelas sem noivas convidadas
e convidados para boda nenhuma,
o lugar onde o bodo se devolve aos pobres.

No lustre embaciado pelo uso
executo o não plano
o acordo firmado 
nos soluços vínicos
na palmilha sem pés por perto
no grotesco movimento fradesco
sem freiras por perto.

Não vou ao batistério
por ausência de comoção mínima
e convocatória de águas perenes.
Prefiro um rio sem desenho
o caudal esventrando no chão rochoso
e as perguntas alinhadas sem ordem
no sopé da manhã estimada,
o eco da concórdia.

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