23.5.19

Corsário histórico

Corsário sem mar
assobia os olhos cansados
na reforma que o deixa exangue.
Já não assalta navios
nem ensimesma a vanglória 
de ser senhor dos mares.
Deixou-se de aventuras protuberantes
sarcófagos inelutáveis
baías escondidas atrás dos mapas.
Deixou de ser demónio alheio
nas orações lisamente entoadas
e nas juras aos divinos estamentos
sobre 
arrependimento
e redenção.
Agora procura indulgências
na cordilheira que é seu verbo.
O corsário desencartado
é a humilhação da classe.
O corsário
já não se lembra que foi corsário.
De manhã
quando se habitua à luz clara
diz de si mesmo
que é alguém em esboço.
Alguém 
à espera de ser anunciado.

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