18.5.19

Manual de operações

O resto
é a adivinha da tempestade. 
O sabor metálico na boca. 
Um pouco de melancolia
como véspera do contrato sem notário. 
Arredondando-se a data
no emolumento da litania
recusando o ultraje
recusando as outras recusas. 
Aquém das mãos mais altas
a voz emudece. 
Amanhece sem manhã. 
O silêncio abate-se sobre o palco transido. 
Um nevoeiro improvável
acompanha o odor sem rasto
os poros ensanguentados pela ternura. 
Das janelas abertas
pecados sem geografia
gerações perfiladas no incensar dos tempos. 
A harpa longínqua,
mnemónica como instância de último recurso,
devolve as estrofes perdidas
costura a memória
na sua reinvenção. 
Não é logro. 
O curativo assisado perfuma a fazenda
que é a residência dos corpos. 
Talvez
um enigma
como são os enigmas:
a redundante evisceração da fala
o temor das palavras ditas
prantos interiores que secam as lágrimas. 
Um farol intemporal acende-se 
rompendo a névoa baça. 
Avista-se um navio
sem nome aposto no casco. 
O farol continua a ecoar
vertendo a fala funda
no alfobre da pele. 
As luzes do navio contrastam com a solidão
(não se distingue um marinheiro só):
alguém conduz o navio
entre as águas traiçoeiras. 
O farol não o deixa perder-se.

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