O resto
é a adivinha da tempestade.
O sabor metálico na boca.
Um pouco de melancolia
como véspera do contrato sem notário.
Arredondando-se a data
no emolumento da litania
recusando o ultraje
recusando as outras recusas.
Aquém das mãos mais altas
a voz emudece.
Amanhece sem manhã.
O silêncio abate-se sobre o palco transido.
Um nevoeiro improvável
acompanha o odor sem rasto
os poros ensanguentados pela ternura.
Das janelas abertas
pecados sem geografia
gerações perfiladas no incensar dos tempos.
A harpa longínqua,
mnemónica como instância de último recurso,
devolve as estrofes perdidas
costura a memória
na sua reinvenção.
Não é logro.
O curativo assisado perfuma a fazenda
que é a residência dos corpos.
Talvez
um enigma
como são os enigmas:
a redundante evisceração da fala
o temor das palavras ditas
prantos interiores que secam as lágrimas.
Um farol intemporal acende-se
rompendo a névoa baça.
Avista-se um navio
sem nome aposto no casco.
O farol continua a ecoar
vertendo a fala funda
no alfobre da pele.
As luzes do navio contrastam com a solidão
(não se distingue um marinheiro só):
alguém conduz o navio
entre as águas traiçoeiras.
O farol não o deixa perder-se.
Sem comentários:
Enviar um comentário