Procuras a muralha
à prova de vendaval.
Sabes o que é
não ser vendável
o ritmo compassado no obelisco
onde se resguardam as relíquias.
Não te apetece
se não a letargia;
não capitulas:
não têm préstimo os epitáfios
se as pedras cimentadas
consumirem o desejo da vida.
São as impensáveis escadas
que intimidam?
Vacilas.
Olhas pelos interstícios das nuvens
onde o vazio se esgota
na temporalidade do espaço vago.
Desejas o impossível
– antecipas, como hipótese,
ao raiar do dia.
O diálogo pressupõe
palavras e um par de pessoas
gramática apessoada
e substância do enredo.
Não sabes
se os gritos que ecoam
são a aflição personificada
ou o aleatório esbracejar do mundo.
Não sabes
se a miséria pertence aos abastados
aos gongóricos eruditos
aos campeões de si mesmos
enquanto se exibem
diante do espelho
– de um espelho
que não sabem estilhaçado.
A pureza das condições é um quesito,
desaproveitável,
perfeitamente inútil
(ele há poucas coisas tão perfeitas).
Corrias contra o tempo?
Não:
corres a favor do tempo
porque o tempo traz-te em seu regaço
a mão não tolhida composta a teu favor.
Admites os contratempos
as linhas entortadas que aceitam estrofes
o linho envelhecido que é teu caudal
a redenção não requerida
a ata desorganizada que dispõe o pensamento
um beijo adocicado da clepsidra futura
o sangue domado entre paredes estreitas.
Aceitas tudo
a começar nos sobressaltos
(que assim deixam de o ser).
Pois descobres
que és a tua própria muralha.