Ólafur Arnalds, “Only the Winds”, in https://www.youtube.com/watch?v=9eWewdTkghM
Um pedaço de lava embaraça a boca
os lábios tremem com a digestão das palavras
sábios os seios descobertos à altura da maré.
A galáxia perdida no paradeiro do escol
entardece sobre o orvalho prematuro
os vultos amotinam-se sob a lua tardia.
Na praia a areia fosca faz de penumbra
ao longe a silhueta esconde os segredos
suados os olhos que marejam no miradouro.
As estrofes ateiam o fogo na boca do estuário
contra os velhos arqueados que esperam a morte
lambendo o passado com a angústia da perda.
São doces as uvas que descem à boca
dizem que não é estéril a combustão que medra
e os dias vindouros servem-se em sonhos.
Descendem os dias da sementeira metódica
os dedos ungidos por deuses sem nome
os corpos fundidos na chuva torrencial.
Não é o adeus que combina o verbo imperial
nem a angústia que se abraça ao mastro inocente
e da rua trago um lenço cheio de versos.
Até o oxalá se esgota no crepúsculo avoengo
em gotas pequenas que esbarram na pele madura
daqui ao mundo em frágeis teclas ciciadas.