Forjado a ferro
no anátema dos insubmissos
um nome ganha nome,
desamarradas as algemas.
Nos despojos onde não há santos
as palavras cruas tatuadas na carne
bem fundo
onde a carne se junta aos ossos.
Depois de consagrada
embebe-se no vinho floral
propositadamente aberto para a solenidade.
As elegias temperam páginas de xisto
vingam nas bandeiras arrematadas ao cais
sem crime preponderante
sem que haja quem reivindique
a sua perda.
Não podíamos
ornamentar as flores avulsas
diziam:
é uma litania
um gesto do permitido aos deuses
e não somos deuses
não somos premeditados.
Fossem outros
os tempos e o modo
e seríamos derrotados pelo sobressalto
de não conseguirmos ser deuses.
Agora
o mel ferve na boca
que cresce no perímetro das palavras
costuramos os bolsos puídos
porque há amanhã
soltamos as feras domesticadas no adro
onde subimos a palco
e
sem o pudor de outrora
entoamos poemas.
Agora
não somos vítimas da nostalgia
não obedecemos se não às desregras
aos murmúrios que emprestam musgo à noite
e pelas mãos perenes
deixamos paredes untadas
com as lágrimas de outrora,
que agora perdemos o pudor
e sabemos que as lágrimas
também embelezam epitáfios.
Digo
para que possam ouvir
que não sou presa do medo
e que dele me apoderei
para o desfazer em mil pequenos seixos
anónimos e indiferentes.
Povoo o dia com centelhas
com a ajuda da maré
e baixo a cota das árvores
para a elas subirmos
só para sabermos como o nosso domínio
não nos é submisso.
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