16.7.24

Papel de parede

Os espelhos admirados contorcem o riso

na inviável separação entre dia e noite

logo quando a penumbra extradita a luz clara

e muitos se exilam num muro subterrâneo.

As estrelas querem beijar a terra

ao que parece:

o tumulto contínuo açambarca as horas pálidas

arranjam foros de medo

que se estende por cima dos horizontes.

Num sonho por amanhecer

os pés vagueiam em cima de nenúfares

combinando os violinos pontuais

com a matéria que desembaraça a noite.

Em dias assim sombrios

na boca estalam palavras frugais

antes que sejam idioma em rota de colisão

com a gramática

antes que possam vir a ser

literatura deitada no penhor/da visibilidade,

literatura em desfado lancinante.

As palavras não deviam dormir em espelhos

disse um poeta

bebendo na excentricidade 

de que se diz mecenas:

deitem-se às candeias as frases soltas

posfácios de edições prometidas

ou meras declinações de estados de espírito


(se é que se pode aceitar 

a existência de espíritos.)


Um pai gasto ensina o resto;

as aguarelas fogem da tela

odeiam molduras

têm-nas como cárceres enegrecidos

vertendo ferrugem sobre o pensamento.

Amanhã será manhã outra vez.

E nós

combinados com as estrofes inaugurais

ciciamos a moratória do medo

contentes por não sermos reféns de tatuagens

que escondem os poros puros 

que à pele têm como matriz.  

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