Os espelhos admirados contorcem o riso
na inviável separação entre dia e noite
logo quando a penumbra extradita a luz clara
e muitos se exilam num muro subterrâneo.
As estrelas querem beijar a terra
ao que parece:
o tumulto contínuo açambarca as horas pálidas
arranjam foros de medo
que se estende por cima dos horizontes.
Num sonho por amanhecer
os pés vagueiam em cima de nenúfares
combinando os violinos pontuais
com a matéria que desembaraça a noite.
Em dias assim sombrios
na boca estalam palavras frugais
antes que sejam idioma em rota de colisão
com a gramática
antes que possam vir a ser
literatura deitada no penhor/da visibilidade,
literatura em desfado lancinante.
As palavras não deviam dormir em espelhos
disse um poeta
bebendo na excentricidade
de que se diz mecenas:
deitem-se às candeias as frases soltas
posfácios de edições prometidas
ou meras declinações de estados de espírito
(se é que se pode aceitar
a existência de espíritos.)
Um pai gasto ensina o resto;
as aguarelas fogem da tela
odeiam molduras
têm-nas como cárceres enegrecidos
vertendo ferrugem sobre o pensamento.
Amanhã será manhã outra vez.
E nós
combinados com as estrofes inaugurais
ciciamos a moratória do medo
contentes por não sermos reféns de tatuagens
que escondem os poros puros
que à pele têm como matriz.
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