Pequena seria a incumbência
se não fosse ao fado autorizado
o estatuto de mito afivelado
estandarte dos prantos
em que se debate uma terra inteira
tornando-a alagadiça
de tantas lágrimas que fecundam
um caudal de nostalgia
e o cimento da saudade
– da saudade que devia ser desorgulho
de tanto meter a terra a olhar para trás
em vez de para a frente a fazer andar.
De tanta melancolia emparedada
tanta a angústia servente do fado
aviva-se, cristalino,
por que tristezas não pagam dívidas.
Não pagam
é só olhar para os inventários públicos
e pedir à estatística uns cálculos emprestados
(só para fazer jus
ao princípio geral da dívida).
E esta terra tem-nas
dívidas
(e tristezas a rodos)
como se fosse uma piscina
a hastear-se
mais alta do que o corpo
acima de todos os fingimentos
e dos pueris que se disfarçam de fidalgos
e são tão falidos como a pátria endividada
– essa que é
uma mátria
avinagrada.