Descansa na esplanada
enquanto o tempo de esvai
como as águas do rio, lânguidas, para a foz.
Contempla a ponte
feita das pedras gastas
tão gastas como a sua pele tomada pelas rugas.
Os cabelos brancos que esvoaçam
dizem-lhe que houve tempo
em que a juventude foi rainha.
Agora, enquanto o tempo se demora,
bate-lhe à porta a nostalgia
povoada pelas recordações que ungem o presente.
Entrelaça os dedos das mãos
e sente a pele rugosa
a batuta das adversidades semeadas vida fora.
Refugia-se nos claustros da nostalgia
o impulso para a solidão em si
olhando a constelação de coisas pequenas de tanto dizer.
Por entre as memórias
as mais recentes, funerais de amigos que partiram,
o tremor que se apodera ao pressentir que a porta se fecha.
Apela à memória mais longínqua
iludindo o que o espera – e atormenta;
descerra imagens frondosas, sem rugas ou cabelos brancos.
Nesses tempos
o coração palpitava com força
e tragava com vigor todos os segundos do dia.
Uma gaivota com silvo estridente
desperta o velho para o dia de hoje
e vê, com os olhos cansados, as crianças que rejubilam.
Erro fatal invejá-las
que cada coisa tem a sua idade
e o tempo é o reduto do que já foi gasto, irrecuperável.
Por todo o lado
a brisa fresca arrefece as ilusões.
Sabe o velho que lhe resta esperar.
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