As lágrimas coalhavam o sal da memória
eram lancis onde bordejava a planura do espírito.
Intemporais.
O sal turvado enriquecido pelo sabor dos poros
entretanto percorridos.
Das lágrimas furtivas, o espelho:
os olhos marejados
lagos imensos das lágrimas retidas.
Do choro entristecido
do choro amargurado
do choro dos desventurados do amor
ou apenas do choro da alegria irreprimível.
Sempre lágrimas
um mar chão que se perde
pele abaixo
na tez enrugada que absorve as lágrimas.
São fugazes, mas sofridas:
a muita dor que as percorre
extingue-se na curta vida em que se consomem.
Os teus olhos são testemunhas
das lágrimas sentidas que se soltam
batem asas
e escorrem uma gota esparsa.
As lágrimas
vertem o turbilhão de estados de alma contraditórios:
a dor de viver
a dor pela dor dos outros
ou apenas a comiseração pela felicidade de quem a tem.
São monumentos
elegias da intensidade do frémito
que as empurra no emolumento das emoções.
São aviltantes?
Jamais.
Telas tecidas
na espontaneidade dos afectos desencontrados
ou no torpor do deserto lancinante
ou na solidão condoída.
As lágrimas têm a cor que lhe queremos dar.
O verde da alegria incontida
moldada nas lágrimas altivas;
o negro de um luto sentido
a saudade da pessoa querida ora partida;
o amarelo doentio
dor que consome a pacatez do corpo
expele as lágrimas como expoentes da dor tão forte;
o vermelho das efervescências
mergulhos em desavenças que ferem
ou o pranto da humilhação que verga em derrota.
Mas as lágrimas juntam-se
no fermento de um só sentido:
salgadas são
sentidas saem
e lavam o espírito.
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