19.6.06

Nem que fique só a memória das tuas palavras

Na tua boca
nadam as palavras,
esbeltas,
como os gestos inebriantes de uma sereia.
Mágica na articulação das frases
emprestas um brilho impossível
porque impossível para todos
menos para ti.

Mesmo as palavras mais arrepiantes,
ou até as que horrorizam,
todas escapam com a leveza das pétalas
que levitam pelo vento errante.
Podem ser tontas, inconsequentes,
podem ser admiráveis ou fogosas:
lá vêm, em catadupa,
na furiosa incandescência de uma tempestade
cerebral.

Se eu pudesse
arquivava-as, todas.
São como os pequenos grãos de sal
aparentemente dispensáveis
mas todos, sem excepção,
ingredientes sequenciais de uma roda dentada.
Preciosos,
como as palavras quer ecoam da tua boca,
ouro fundente que se prende
no sótão das memórias.

No fim da história
hão-de vingar as palavras que legaste.
No fim da história
hei-de acarinhá-las junto ao meu peito
para sentir o murmúrio que elas entoam
como se fossem a ressonância da tua voz.

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