Há palavras que ecoam na barreira do silêncio
como se fossem
pedras pontiagudas da barreira de coral.
Palavras que cavalgam na parede da ilusão
merecedoras do mais irrisório silêncio.
Há outras que apraz ouvir murmuradas:
é no suave trinar do murmúrio
que exalam pétalas perfumadas.
Há as palavras sentidas
que se soltam das entranhas do ser
com a pulsão enérgica dos instintos telúricos.
Palavras que arrebatam
convocam um gesto que se desfaz em afago.
A melodiosa sucessão das estrofes do poema
que se tece,
na sua fragilidade genética,
produto final de cores garridas
um turbilhão voraz de águas fortes:
salgadas, ou doces,
águas que purificam.
Há, porém,
o sortilégio das palavras desnecessárias.
São entoadas nos olhares
nos gestos,
na cumplicidade que não se pode descrever.
Nas palavras que aparecem indizíveis.
Na sua desnecessidade, preciosas estas palavras.
Silêncios de ouro com mensagens codificadas
que apenas os penhores dos sentidos
percebem na sua largueza.
Nos silêncios meticulosos
bebe inspiração o sentimento mais alto.
Vêm alados no esvoaçante trovão
que incendeia, qual candeia dócil,
os querubins doravante.
Na imersão das palavras desnecessárias,
(que não são inúteis)
as dobras de uma lombada debruada a ouro
o ouro tão precioso da matéria incomensurável.
Um banho que refrigera
apazigua demónios
temperança de um bálsamo apenas feito de palavras.
Das palavras que se dizem
das palavras genuínas,
mesmo das palavras fátuas.
Mas sobretudo
das palavras sentidas
e não escutadas
apanhadas nas ondas que desligam
da penumbra do sono letárgico.
Acima de tudo
das palavras
que nem sequer é necessário proferir.
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