Deito-me na lava que deixei à minha frente
os corsários que avulsos intimidam o sono
trovejam as pedras atiradas sobre as abóbadas
e de mim não sei se não a constelação inaugural
uma boca extintor servida nos melhores banquetes
braços e pernas presidentes
pendidas como tentáculos
generosamente
o melhor do pior
antítese.
Confiro a métrica dos medos deixada em rodapé
convoco a audácia dos demónios
entre marés providenciais e páginas esquecidas
desdobrando as fotografias sonolentas
o lume da manhã arrefecendo a carne acordada
o sufoco das tempestades sem bainha
desde o miradouro hasteado
até ao aqueduto dos cruzados.
Dou-me inteiro à tua posse
e tu
a sereia que arranca os versos
à minha boca prodigiosa
contemplas a rebeldia dos insubmissos
como sabes de cor cada centímetro de pele
e eu
sem pressa do passado
arremato dos leilões sem paradeiro
a argamassa onde tudo se ampara
onde tudo se compõe
na efémera câmara transparente
no friso puído que soletra de cor
o magma inquieto
que não tarda
é musicado em lava incandescente.
Para dizermos então
que os dicionários correm no sangue
e toda a literatura se escondeu
nos poros da pele que irradia o luar cessante
em furnas vertiginosas fugindo do crepúsculo
caiadas nos braços centrípetos da árvore-favor.
Deixo a lava onde me sentei futuramente
o sumo da lima vertido na pele cicatrizada
e sei que da lava que lavou a alma
agora acrisolada
agora
nesse preparo que é um tempo dedicado
morada em que à tua, maior, alma
se ofereceu.
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