Vejo
na alma do mundo tantas cicatrizes
o espólio que se atira de frente
contra o muro do passado
e em várias toneladas de conhecimento
chega ao estuário exangue,
extinto.
Vejo
as pessoas sem nome
ou com nomes que não sei dizer
reféns de uma penumbra que os atiça
no vulcão perene que os consome
vejo
como falam um idioma que não percebo
e se entregam no luar que é o abismo
disfarçado.
Vejo
no miradouro furtivo
as pernas tremidas à medida que avançam
e dos nomes extintos se aproximam
vejo-os
aluados e impassíveis
como se não pudessem ser mais do que peões
ou carne para canhão
que ainda dá direito a uma comenda póstuma
que os heróis querem-se póstumos.
Vejo
com as dioptrias todas no ângulo vivo da visão
os banquetes que omitem a miséria
o ultraje dos comendadores em pose hierárquica
um desmodelo afinado pelas mãos usurpadoras.
Vejo o que vejo
e desejo
que não visse nada do que vejo.
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