8.10.24

Pretendência

O gelo fosco entra pela porta

desliga a luz e averba o cansaço

e as pessoas hibernam

tossicam entre a lava do sono

procuram o musgo telúrico

o refúgio vindicado. 

O frio congela as veias e o sangue.

Amanhecem 

os fantasmas esquecidos

deitando à luz hesitante a moldura dos dias

como se não estivessem gastos 

pelo peso do mundo

pelo peso insuportável 

do peso herdado da História. 

O telefone conspirou com o silêncio

num tempo que vai em prolongamento;

as faces indiferentes atapetam as ruas

e não há porta-voz que queira desafiar os vultos;

até ordem em contrário

rejeita-se

a mordaça higiénica.

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