Desisti do
lírico amparo do mundo.
Não que o
mundo não mereça;
não quero
mais mondar as margens volúveis
não quero
naufrágios
em berço de ouro
facas fundas
a boiar em nenúfares sem culpa
as
ruidosas crianças
sem
adivinharem o pleito doravante
e as
buganvílias decadentes
na ilharga da estiagem.
Vingam-se
as nuvens sem rosto
em apuradas
incisões por dentro da carne
em cicatrizes
indissolúveis
um baraço
irritante que detém os movimentos.
Ah!
Se ao
menos pudesse sonhar com um oásis
com prestimosas
personagens seus atores
e as planícies
não escondessem um ermo arenoso
enquanto à
ceia
servia as
palavras empunhadas pela boca faminta
nem que
fosse apenas
para ser seu singular ouvinte.
Deitar-me-ia
sobre tapetes sem rugas
no dorso
da noite desamparada
– e eu seu
exigível amparo,
se me não
esquecesse.
Meneio o
olhar profícuo
à procura
dos versos andantes
das paredes
transparentes
dos sacerdotes
sem deus
dos invulgares
esteios sem cais
dos números
perdidos nas equações.
Procuro
algum sentido
sem aval
dos compêndios azulados da razão
sem o escudo
esquecido da bondade,
apenas com
a indomável gesta sem antepassados
sem sequer
o patíbulo do adeus.
À espera
de invenções tonitruantes
do progresso
à falta de
ser eu seu fautor.