Chego de olhar segado
que medram impostores
– mas o que sei de fingimento?
(A não ser
os não dolosos fingimentos
em que se finge não ver
quem não se quer falar.)
Habilito com cortesia
quem desenha confiança
– mas o que sei de fingimento?
(A não ser
os lucros disfarçados de dano
ou os danos transfigurados em lucro,
ou os dois por junto.)
Prometo juros certos
aos demandantes de contendas
– mas o que sei de bélicas desaventuras?
(A não ser
as desabridas arengas
em epistolares provocações
com irritantes figurantes.)
Projeto uma casa santuário
aos que se recolhem em meu exílio
– mas o que sei de arquitetura?
(A não ser
o rendilhado das palavras
a dedo escolhidas em estirador
de luminosa colheita.)
Dou coutada aos sonhos,
que vejo utópicos e idealistas em barda
– mas o que sei de miragens?
(A não ser
as miragens dos desertos
que nunca demandei
por antinomia de geografia.)