23.8.19

Não tenho idade

Não tenho idade
no teatro que me testemunha.
Não sei das cores acabrunhadas
o sargaço do medo
as altas epístolas que deitam elegância
nas palavras.
Não tenho idade
e, todavia, não significa
que tenha encontrado o segredo da imortalidade.
Desejo os relógios sem portas
o mar escancarado
os frutíferos olhares em contramão
e sei dizendo-o
em estrofes sem vagar
no mais puro desmentido de mim.
Não tenho idade
porque me esqueci do tempo
a sua vacatura sem paradeiro
o esfoliante que desafia as coisas corpóreas
e de onde se resgata um sentido
(um qualquer, 
impossível de desenhar)
de subsistência.
Não tenho idade
no degrau do palco
que se demora,
à minha espera.

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