2.8.19

Noite fugida

Curto-circuito na noite. 

As trevas capitularam
indefesas 
perante a bucólica luz 
em erupção. 

Não havia ninguém para ser
zelador da noite.

Quase órfã
esticou-se ao comprido
no silêncio pedido de comiseração. 
Os boémios não estavam atentos

(viviam a noite por dentro da noite,
não deram conta do seu esgotamento)

e os demais estavam reféns do sono,
não podiam acautelar as dores da noite. 

Alguém pressentiu
que a insólita luminosidade
era a vaga a que tinha admitida
a noite branca,
já não exclusiva de paragens nórdicas

Também estavam possuídos pela quimera:
mal o verão se foi consumindo
em sua outonal decadência,
logo a noite recuperou o seu viço. 

Já era outono
quando alguém interpelou a noite
querendo prestação de contas
pelas tristes figuras
quando a noite covardemente pedira
comiseração. 

Desviou a conversa,
a noite,
sem coragem 
para admitir as suas fragilidades.

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