Deste-me
um mapa
as paisagens em cores plúrimas
um diadema que veio tocar-me
e eu soube
que na morada que seríamos
seria o repouso da beleza
uma orquestra com as vozes sublimes
entoando as músicas sem acaso
num consumado beijo perene.
Deste-me
o que de valioso é património
e das mãos um feixe de luzes irrompe
o acontecimento crepuscular
sem data de validade
sem medo sequer dos medos
desenhando os deslimites do intemporal
na constelação de corpos que somos
pluralidade singular
matriz com selo cautelar.
Deste-me
as palavras sem rebordo
as palavras-refúgio
e eu do magma
fiz levitar as bandeiras sem algemas
a tua boca saciada pela minha boca.
Quais são as casas que nos perseguem
as montras ilógicas onde a fala se desprende?
E nós,
odes a nós mesmos,
arquitetos da safra abundante
um vulcão à beira-mar
uma maré copiosa
estandarte onde,
serenos,
os traços dos rostos sem reticências
se recolhem.
Não damos caução a exemplos
que por nós somos inteiras peças
incorruptíveis ao desejo segredado
uma maré cheia que nunca esmaece
no bojo denso com magnólias a imperar
como se fôssemos nós mesmos
a avenida que nos tem por morada.
Não esbracejamos esta inteireza
que prescindimos das bandeiras que ostentam
petulância.
Somos nós
e por nós chega
na vidraça que reflete os nossos corpos
no uníssono que sabem
atestado lúcido no aroma da loucura
sem espartilhos
nem palavras banidas.
Somos
um amor
e nadamos por dentro dele
saciando a vontade de viver.