20.9.19

Marxismo falhado

Em anotação demiúrgica
o rebelde suspira pelo epílogo sem dor
à medida que a sinfonia caótica de ruídos
ecoa da metalúrgica. 
Não sabe a que aspira o operário tardio
ou se apenas vive para o ganha-pão
que alimenta a sua vida. 
Não sabe a que sabe 
o saque do suor das pessoas,
versão expedita 
de um marxismo de palha gasta
na órfã gesta que não cessa de protestar. 
Sempre ouviu dizer
que as coisas não se ganham de graça
e a rebeldia inconsistente
não achava graça à onerosidade. 
Talvez sobre um pedaço de lua
sobranceiro à alvorada
e seja testemunha da sua insubmissão. 
Admite
que nunca soube o que era saber
uma intempérie diária 
abater-se
sobre corpo e alma
e admitia
que a rebeldia devia ter incarnação 
nas massas oprimidas,
não fosse dar-se o caso de não acreditar
na luta de classes
e no léxico correspondente. 
Não deixava de o lamentar. 
Sempre teve a impressão
que são mais diligentes
e próximas do leitor
as estrofes que se arregimentam
em favor dos oprimidos. 

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