13.9.19

Em ponto morto

1
Começada a empreitada pelo telhado
contra os cânones
e o conselho do prior.

2
Se havia fio condutor
não era à prova de água
e o cão tresloucado tratou de o provar.

3
A iguaria merecia distinção
e os ancoradouros de outros lugares
assinaram a tinta-da-china.

4
O operário esfrega as mãos
mas não é de contentamento
é para acentuar as rugas.

5
A escola inventariou um saber
sem ajuda das prateleiras da biblioteca
na sua opacidade inútil.

6
A fortuna está nos livros,
repetiu o filósofo
enquanto ninguém lhe dava atenção.

7
A praça estava deserta
na panóplia de silêncios
de que é fautora a noite.

8
Se ao menos um livro
viesse conhecer a noite
traduzia a audácia em sabores.

9
São contemplativas as preces
menos para o sacerdote
que ferve à espera do manjar.

10
As mãos inscrevem-se nas flores
e perfumadas assentam o entardecer
na literatura experimental.

11
Não sabem nada, os turistas
a não ser emprestar mundo
à cidade que os recebe.

12
Do alto das muralhas
os rapazes admiram o rio 
só falta uma estrofe a desenhar os limites.

13
Da noite estimada
a coreografia de luzes
e a volúpia dos corpos.

14
Da alvorada anunciam-se os alicerces
por onde os cânones
interpretam os começos.

15
Desafiam-se as larvares consumições
as onomatopeias costuram as paredes
e os ascetas despem-se de pressupostos.

16
Tudo é nudez
em palavras e ideias
para ninguém ganhar vantagem.

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