11.9.19

Prova de vida

Desconheço a cor da morte.
Não patrocino
as lautas indagações
sobre a escravatura que nos espera.
Não comento
as conjeturas dos esconjurados da vida.
Não perco um minuto
a providenciar sementeira
à ossatura do desencontro fatal
nesse venal penar 
que é viver à espera de morrer.

Se for preciso
faço de conta que sou imortal
(à espera 
que a ideia cavalgue sobre
o fatalismo de viúvos incorrigíveis).
Não deixo o corpo correr atrás da decadência.
Não convoco a apoplexia das doenças
antes que elas tomem conta do corpo
contra a vontade da tutela.
Não vou atrás dos rostos perdidos.
Não gloso a métrica humedecida em subsolos
e às flores encontro melhor serventia
do que serem hóspedes em cemitérios.

Não deixo o meu corpo à morte.
Juro que não serei húmus 
e em testamento lego as cinzas
à fronteira derradeira do mar aberto.
Que me encontre 
o sortilégio das ondas
e todo o sal se concentre nas partículas minhas
em avivado oceano.

Não serei morte
imortalizada no alpendre 
onde 
por junto 
jazem os demais 
já inertes.
Não serei morte.
Porque quando à morte não ser recusa
não serei consciência para da morte ter saber.
E isso
é a quimera que se congemina na morte.

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