Se te contasse
os verbos da aguarela
falaria
sobre as sombras que levitam da luz
os aquários onde sentadas estão
as esfinges de poetas arcanos
as linhas finas que compõem as silhuetas,
apenas arremedos de corpos
diluídos
na penumbra alinhavada pela bruma.
Se te contasse
as almas contidas nos verbos
arranjávamos
um dicionário por nossa conta
e dos nomes sem paradeiro
não seríamos penhores
a não ser que uma multidão de rostos
viesse desaguar na praia que temos
por praça forte.
Se te contasse
os riscos de um parágrafo a destempo
dir-te-ia
que participa dos sintomas com os poltrões
que desarrumam o código da estrada
os argonautas que ferem a gramática
os miseráveis que sobre tudo
açambarcam opinião.
Se te contasse
a boçalidade que não vês
não estou certo de que de mim farias
fiel depositária da confiança;
acredita,
não são comezinhas as entorses
a prosápia dos risíveis
a arrogância dos néscios
o excesso de otimismo dos que se tresleem
quando determinam um espelho trapaceiro
como seu ponto cardeal.
Se te contasse
que na maior parte do tempo
apetece
a hibernação
ou seres refúgio onde me anestesio do resto
saberias dos teatros infrequentáveis
e de como és
o lugar onde me apetece ser.
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