Dantes
tinha como passatempo
polemizar.
Agora
tenho como preferência
poetizar.
Diga-se
que este é
o meu prémio de consolação.
Soube debulhar as arestas
que não saneavam as feridas,
permanentemente patentes.
Coabito, agora,
com a pureza das palavras
arrancadas aos sentidos
as que não claudicam aos sentimentos
as palavras jogadas na matriz bela
onde se aceitariam todas as preces
as que reinventam a gramática
nas costas de um papel gasto arrancado ao chão
as palavras que precisam de patentes.
Agora sei:
poetizar
é aceitação da grandeza;
polemizar
leva do corpo uns anos de vida.
Agora
sei dizê-lo:
antes que fosse tarde.