Deserto
da matilha sem açaime
os musculados mastins do verbo fatal
apequenados no terreiro que os confina.
O deserto:
lugar achado
para sua pequenez imóvel,
os mastins infrequentáveis
capitulam na alquimia do verbo cabal
deixando para memória futura
uma memória sem memória.
Deserto desse deserto
enquanto há tempo
e a virologia não se enamora
de meus poros que se não fecham
ao saber de outros saberes.
É nesse deserto
que afivelo a deserção não tardia
antes que seja tempo
de um penhor implacável
me tomar pela sua vontade
e eu à matilha ser condenado a regressar.
O deserto de onde desertava
era pesadelo com cenário a preceito
consanguíneo ao real.
Livre do pesadelo
tive alta da consumição
e não seria deserção daquele deserto
nem da matilha dos mastins esfaimados
que se banqueteavam no sangue pútrido,
seu e alheio,
que precisava como redenção.
Hoje pergunto:
de onde preciso desertar
para marcar encontro com a redenção?
(Ou podia perguntar,
em súplica arrevesada
no tear de um labirinto sem mapa:
preciso de redenção?)