15.10.19

O corpo aos hedonismos

Participo da marcha sem vesúvios
no quintal aformoseado
onde se detêm os previsíveis mastins,
mortos de sede.
Recuso o pleito:
não tomo partido
e mesmo que tomasse

tenho o corpo como serventia
de outros hedonismos.

Os mastins ficam sozinhos,
em conferência
a espuma infecunda da ira 
esterilizando o chão
povoado de daninhas ervas.
Nem as daninhas escapam
ao iracundo salivar dos mastins.
Aos mastins,
falta-lhes oponente.
Hão de arrastar-se como meras percentagens
ínfimas parcelas que não se prestam às contas
desapoderados
consumidos pelo emudecimento das atrocidades
larvares em sua própria vanidade.

O corpo,
repito,
reservo-a a outros hedonismos.

E contemplo as virtudes gastas
em desfile nas arcadas do tempo
sob um ecrã a preto e branco
impressionantemente puro.
Se preciso for
atiro para lá o corpo
para o resgatar das marés lodosas
e devolver ao campo fértil
dos hedonismos.

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