É este tiquetaque interminável
eletrocardiograma dos relógios
de todos os relógios
sobrepostos
entrando em surdina nos ouvidos
ecoando o tempo algoz
e o tiquetaque continua
incessante
teimosamente infecundo
que a cada eletrocardiograma dos relógios
sei que se esvai a andadura em que estou
e os relógios ensurdecem
como fossem conspiração com aval divino
(daí não poder acreditar em deus)
e o meu magma doesse
a cada percussão dos ponteiros dos relógios
em combinação de uma sinfonia interminável
contra os terapeutas alinhados
em vozearia concorrente com a dos relógios.
Arrependo-me.
Não quero saber da mudez dos relógios
de todos os relógios
sobrepostos
antes de saber
que essa mudez
pressente
a minha própria mudez.
Arrependo-me.
Doravante
consagro o tiquetaque mundano
arbitral
mecanicamente rotineiro
carta registada com aviso de receção
sem data desenhada no calendário,
consagro o som melódico
de todos os relógios
em cada peça por si considerada
singular mote da combustão diária,
ou de todos os relógios,
por junto,
sobrepostos.
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