[Thurston Moore, “Leave Me Alone”]
Deixo a lanterna
deixo-a
no propósito da luz
em maceração
contínua,
vívida,
sem o bojo do engodo das palavras
das palavras malsãs
das palavras equívocas
nem que seja das palavras meãs.
Desta paternidade
as ideias sem maré
entre a convulsão das memórias
e o império da adulteração,
sabendo apenas o que não sei
contendo dentro do peito
as palavras em forma de bala
– o regicídio inacabado.
Destravo as costuras atadas
no caiado céu na véspera dos pássaros
e as flores polinizam os verbos desencontrados
contra a vertigem do apetite
a combustão da carne desenfreada
nas ilhas feitas à volta dos parágrafos,
as linhas a eito deixando espaço
para as pontas soltas
ainda soltas.
E se ao fogo ávido
a boca sedenta se atira
é por o desejo tatuado na pele
e as palavras nunca são erradas,
as palavras são sorrisos largos
e os dentes desenham os versos improváveis.
Contenho a cinza mercadejada
em santuários à margem de tudo
e sei
de antevéspera
que depois de amanhã será calendário
contra as probabilidades de o não ser.
Não desaproveito o dia e a noite.
Apetece estar de atalaia
todo o tempo
no veio do tempo
o sono encomendado ao olvido
e da pele sedosa sílabas incansáveis salivar
na gramática do alvo mais forte
a gramática do que é
o desejo de ti.