O espelho no rio
as flores todas avivadas
abertas no acolhimento do sol
balbuciam cantos literais
na sombra das pontes retalhadas.
O rio
não se coíbe
avança contra as marés escrupulosas
como se dançasse entre os rochedos
serpenteando a coreografia avulsa
mas triunfando
para gáudio dos arbustos menoscabados.
Talvez seja um simples bocejar
ou o corvo esquecido entre o nevoeiro
ou uma senhora idosa em contemplação
na varanda do seu esquecimento:
talvez seja
outra tanta coisa
afivelando seu penhor
e a corrente forte do rio,
imune a qualquer sufrágio,
dita a sua lei intemporal.
Até que um menino
imberbe como o são os meninos
vaticina o rio puído
mal se consume sua dissolução
no mar sem tamanho.