(Em dia de “reflexão” legalmente obrigatória em véspera de eleições)
 
São as desarmas
que têm voz
no espaço horizontal
que se atravessa
entre a matérias diferentes dos dias. 
A boca arranca um verbo ao silêncio. 
Joga-o
contra os mastins disfarçados
que colonizam a tirania
também ela um ardil. 
No gotejar noturno da lua
enquistam os boémios a matéria sanguínea
como um dia fosse feito de noite
e as arcadas sinónimo de desarrelias.
O resto
fica conta dos acasos
que em descasos se armadilham
à espera da alvorada baça
e dos corpos ainda mal acordados,
estremunhados no sarcasmo da rotina. 
Os olhos não vêm nada. 
Mergulham 
no niilismo da alma que os traduzem. 
Se as migalhas varridas das vésperas
forem a poluição de uma alquimia 
tirem-se à sorte as lotarias 
joguem-se os corpos 
contra a ebulição dos dias marasmos
e de um golpe só
vindimem-se os idiomas que se fundem
nas bocas várias que se entrecruzam. 
Os horários do futuro
são um segredo que todos sabem. 
Não há voto mais democrático.