30.9.21

Os versos pagãos

Os versos pagãos 

não têm escolta.

As suas mãos almiscaradas

não se arruínam na doca da noite.

Acotovelam-se os disfarçados

como se a sua dança fosse ardil.

Os versos pagãos

escondem-se no crepúsculo.

Ditam as sílabas

para o túmulo onde descansam

as vozes mutiladas.

Não precisam de regresso:

a eternidade da véspera

cuidou de os emoldurar 

nas árvores marmoreadas.

Os versos pagãos

são a voz flagrante

conjeturada no ermo onde falam 

os silêncios.

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