Odes ao ridículo
e os seus fautores acham-se nos píncaros.
Não é coisa que a vista alcance.
Tombam no ridículo
tanto se expõem às luzes feéricas
aos néons abrilhantados.
Trepam uns nos outros
enquanto desfilam a covardia
de se dizerem amigos.
Cambalhotam.
Troçam
e depois vem a penúria
dos que desferem a facada fatal.
São a fatiota excelsa
palavras arquitectadas
(ou, diria, engenhadas)
e bazófia militante.
Esquadrinham poses que desbravam escola.
Exemplos de que muitos querem ser
e a negação da imagem que exalam.
Aventuram-se em tarefas espartanas
das que vão além das parcas capacidades suas.
Arrastam-se
num penoso calvário
aplaudido por uma trupe de medíocres
- como eles, por aqueles venerada.
Ah! pessoas bonitas
das nossas bandas,
fátuo circo de vaidades ocas
chapéus engalanados com o mundo ilusório
que vendem a uma horda de seguidores,
tão sofríveis como os idolatrados.
Pobre circo, o que nos cerca.
Haja força para cegar:
só nos instantes das luzes da ribalta
que se espraiam nas altezas que temos.
É a míngua de uma realeza decente,
uma realeza que faz sonhos idílicos
dos consumidores de papel cor-de-rosa.
Um prémio ao divino espalhafato da inconsequência:
solta-se o troféu
e, nas andanças pelo ar,
aprendizes de ilusões vácuas debatem-se
em saltinhos cândidos para ficar com o prémio.
É a glória do momento para o escolhido.
Tantos os olhos que repousam na sua tez
passada a pente fino pelos ditadores da cosmética.
Milhões de olhos não desgastam a pele dourada e desenrugada.
Encantam o ego do artista de variedades sociais
para delícia dos seguidores
incansáveis
insaciáveis do glamour
imperturbáveis no aplauso contínuo.
As palmas das mãos também não se gastam
na populaça arruaceira que anseia pelo estrelato.
Que hoje está mais democrático!
O ruído das palmas não cessa
perfurando os tímpanos
quase até ao limiar da loucura
de quem não desviar a atenção.
Somos isto:
um tanto que promete tudo
que se resume a um tristonho nada
deserto tão cheio de fealdade
refém da inanidade.