14.4.05

Na vertigem

Uma correria ensandecida.
Noite fora,
no rasto do tempo
que nos fugia, temeroso.
Tínhamos uma loucura saudável:
perpetuar os fugazes instantes
de uma vida que sabemos breve.

Era um remoinho incandescente:
levava-nos por um túnel escuro
sem fim que a vista abraçasse.
Sabíamos dos riscos;
o incitamento pela atracção
do impossível.

Retemperadas as forças,
regresso à vertigem nocturna.
Íamos atrás do tempo,
querendo aprisioná-lo.
Empenho para emoldurar a noite,
eternizá-la na lucidez
que se diluía numa acanhada inanição.

Paradoxo:
as energias sem fim
em cada esquina dobrada
nas longas noites;
o vazio que se apoderava de nós
estancada a febre venturosa.

Nem assim o ritual cessava.
Na lassidão do silêncio
esperávamos na paragem
pelo carrossel frenético.
Que vinha com a noite.

A noite:
miragem recorrente
viagem sem fadiga
que repelia a alvorada.
Não houvesse um desejo ardente
de imortalizar a juventude;
e os corpos nunca exangues
teriam sido mortuários
de um destino destemperado.

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