Vagueia, perdido.
Nem sequer carente
de um ponto cardeal
na bússola que não tem.
Desencontrado da lucidez
mete fala com os passeantes
remexe o lixo
e nada nem ninguém procura.
Deambula em desnorte
nos andrajos propositados
calças desafiveladas varrendo a sujidade
camisola coçada e rota
manchas de vinho tinto nas mangas.
Erra pelas ruas da cidade
desafiando a placidez dos bem-postos cidadãos:
uns incomodam-se
desviam a cara no refúgio da hipocrisia;
outros guardam a perturbante imagem
não se desenvencilham do incómodo.
Com um esgar alucinado
assusta a criancinha que passa.
Da progenitora tão protectora
vem a reprimenda ao louco,
dedo em riste,
“que maçada, que maçada”.
Atónito,
o louco errante
fecha-se na luz escura
do quarto de onde nunca saiu.
A criancinha,
um petiz como ele,
a guisa de brincadeira
que apressados adultos de dentes cerrados
não são mestres.
O louco não se entristeceu.
Nunca marcou encontro com a tristeza;
nem sabe onde encontrar a alegria.
Tristeza, alegria, choro, riso
acidentes no mapa que tacteia
pelos anos fora.
Saltando de passeio em passeio,
ora querendo ir em frente
ora ameaçando que recua,
o mundo insondável do louco errante
tresmalhado do rebanho dos lúcidos.
Irado parece
na prisão dos tortuosos becos onde desagua.
Ou apenas a suave opressão da tranquilidade
não ser achado nas contas dos deveres
que aos lúcidos pesam.
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