Para que preciso de asas de Ícaro
se tenho os garfos de mármore
que levantam as terras a eito?
Não hão de ser os embaraços
os dialetos sem cobertura
os olhos marejados pelo vento impaciente
nem as traves inamovíveis
a decidir as minhas decisões.
Faço minhas as palavras de ninguém
quando dedilhava
entre as ruínas estonteantes
as vírgulas do silêncio.
As vasilhas vazias
quadram com o ocidente embaciado;
nem por noites sem sono
se destravam juras
que as juras
se estilhaçam nas provetas falhadas.
Limpo as nuvens à procura de céu
e rejeito as partículas oxidadas
que acidulam as frutas que já não maduras.
Oxalá as manhãs se demorassem
e entre os silvos das crianças estouvadas
a preguiça dos gatos
e a saliva doce
de mim tirasse um módico de sede
para denunciar o insalubre despojar de mim
através dos fingimentos constantes
da indiferença entre as pessoas
das danças peregrinas
dos botões abotoados meticulosamente
da desordem que se espera,
em quimera desassisada.
Se ao menos houvesse asas
como Ícaro
e os campos em sua desmultiplicação
se tornassem excedentes,
desaprendia a palavra “lamento”.