5.4.18

Seminal

Bebo no orvalho
a cor do futuro
sem espera que não seja a espera.

Corto ramos desprendidos
diligente no regresso a casa
diante das veias assaltadas pela volúpia.
Depois
na contagem dos poros suados
no inventário das mãos atadas
componho o sol vertical
no pretexto de viagens lembradas
dos lugares emoldurados na memória.

Corro 
contra as paredes altas,
não sei se são muralhas 
ou um lago disfarçado;
corro
apanho os autocarros que trazem versos
ensino os vagos rumores segredados
destrono lugares-feitos
assino páginas e páginas contra o torpor.
E no orvalho fresco, 
matinal,
enquanto houver,
encontro auroras boreais
uma janela piramidal
cestos de flores secas
crianças que por nada saberem
são as mais sábias.

Aceito o efémero
a caução do tempo selada a tinta invisível:
sei que não há lugar para as lágrimas
sublimadas no orvalho da manhã.

Agora 
tenho os braços livres
o corpo inteiro 
a pedir a água dos mananciais
e mais páginas a eito por tingir
os versos à espera
a alfazema silvestre como paisagem-tela
e a noite 
como lição inteira.

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