Dizia-se:
não são as sombras
o penhor das mãos trémulas;
não são as ondas
adamastores foragidos
na descompostura da noite;
não são as adagas desembainhadas
oráculos onde fermente a lucidez.
Dizias:
não é na penumbra
que se esgrimem as teias do tempo
ou os oráculos infundados
de onde se avistam
as cavernícolas traves da mentira.
Dizia:
não é com desmodos
que se levantam as nuvens férteis
nem os seus abencerragens merecem
sequer
a cozedura de um verbo sem lustro.
Dizia-se:
são os artesãos dos sentidos
tutores de bustos grados
das letras não triviais
de um módico de viabilidade intrínseca
das frutas nos pomares onde somos vida.
Dizia:
deixamos o olhar refém
das escotilhas por onde arde a maresia
e agarramos os versos inspirados
contra a desdita dos ergástulos.
Dizias:
sabemos os lugares desempoeirados
as livrarias da alma
e seguimos atónitos as convenções desusadas
compondo em linhas arrevesadas
a prosa que nos cimenta
muralhas de nós mesmos
no enredo cautelar
de que somos
narradores e intérpretes.
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