Desmaiam as cores
no cruzeiro em destroços
diante do mar.
Se não fosse a urze
se não fossem as pedras fundidas
tornava-me alpinista
e subia aos triunviratos encimados
até me considerar suserano das paisagens.
Se não fosse a cal da noite
se não fossem as ladainhas corrosivas
tornava-me casulo na hibernação noturna.
Mas à janela
cicia um gato faminto;
há, na janela,
o levantamento sem aviso
a insubordinação das palavras
o peito ardente que se atira à coragem
um fermento à espera de vez.
As cores
já não estão desmaiadas
e tenho na mão
fechado sobre ela em forma de segredo
o imperturbável rosto da memória
a ousada perna que traga continentes
a boca,
esteio da madrugada.
Sei agora:
o amplexo de corpos em meus braços
é a lágrima seca de teus olhos
e sei que sou humilde servidor
em sabendo do enxugamento de tuas lágrimas.
Confirma-se:
as cores
já não estão desmaiadas
elas, uma tela fúlgida
e o vento travado por meus dedos
e o mar
em marés sucessivas
atolado no meu corpo,
eu:
suserano dos mares
sem ser imperador de nada
vassalo do teu recinto enxuto de lágrimas.
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