Saciado no palco raso
recolho os contumazes, aleatórios rostos
no tumultuoso caudal da memória.
De memória
não admito sequer os traços grossos
e os rostos decaem numa névoa fugaz.
Nas varandas arqueadas sobre o fojo
perfumo as palavras com a pele
à espera da continência do amanhã.
Sei que não posso esperar
pois o amanhã nidifica
no irrepreensível vazio que é a incerteza,
o tempo ainda ausente.
Vejo
como as duas medidas do tempo
se pressentem num sincrónico tear:
os rostos esquecidos rimam
com a porvir de que não há memória.
O trono vagou,
as divindades extintas no furor da inverdade.
Cabe algo maior
no peito que abriga das intempéries:
uso a fita métrica
e nem apesar de os números desmaiados
perco a noção da estultícia,
não vá ser colonizado por ela.
Os rostos permanecem apenas
silhuetas,
um vago alpendre com as formas distorcidas
as palavras consumidas por um silêncio voraz
o esquecimento matricial emparedado
nos limites dos tempos ausentes.
Sei ser esta desmedida,
o ousado destemor vindicado,
o embaixador ostentando o tridente
que adestra as marés embebidas no calendário.
Antes assim.
Talvez ainda não seja tarde
para aprender o que a teimosia recusa.