26.12.18

Sei

Sei
das lágrimas enxutas
na varanda sobranceira
ao mar. 
Sei
dos vultos
imersos na neblina tardia
de seus olhares vigilantes
rimando com a noite 
furtiva. 
Sei
da chave fundida
na pauta arcaica
de onde entoa o ciciar 
matinal. 
Sei
das marés adstringentes
no sopé do horizonte
por onde o olhar 
se projeta. 
Sei
da memória
que se desenha na posteridade
entre páginas e páginas 
por saber. 
Sei
de memória
as palavras desembainhadas
no santuário 
do desejo. 
Sei
do paradeiro 
dos penhores da paráfrase
hasteando os lenços humedecidos 
pelo orvalho. 
Sei
das noites sem sombras
no desembaraço dos fantasmas
na maresia que entra 
pelo postigo. 
Sei
das proezas vindicadas
por falsários sem remédio
peritos singulares 
na mitomania. 
Sei
dos oráculos sem rosto
as páginas caiadas em perfeita alvura
o ímpar relógio que dá as horas 
do futuro. 
Sei
das palavras que quero na boca
metáforas incindíveis
mostruários das profundezas 
da alma. 
Sei
dos lugares atapetados
dos equinócios sem portas por encerrar
do perímetro apetecível 
de um labirinto.
Sei
um módico
medida bastante
para sobre um algo ter 
ciência. 
E sei 
do que sei
sabendo do imperscrutável
que fica por saber.

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