5.12.18

Dizem que foi um (a)deus

Deletério terramoto
os escombros farejando a morte
e um rio por diante
calmo
em paradoxal configuração das almas.
Não se trata de assuntos urgentes:
a urgência está no seu contrário
no vagaroso escorrer do tempo
em trânsito da contabilidade onerosa.

Dizem que foi (um) deus.

Que punição pode de deus fazer
bondosa entidade,
ó contradição de termos?
A menos
que a rima de vingança com deus
dê como provada a ausência de deus.

Dos escombros
exala um pestilento aroma.
Contrataram cães farejadores
os ladinos contabilistas da desgraça.
Cá fora
o povaréu subsiste
reprime as lágrimas pelos entes decessos
(deve haver um ou outro sob os escombros).

Desfeiteada a hipótese da vingança divina 

(talvez
em abono do próprio deus 
– ou em favor dos que nele creem)

sobra a maldição.

Um demónio
a soldo de fariseus sem rosto
em contundente empreitada contra este lugar.
Há piores catástrofes.
Há as personificadas 
por muito puras, públicas figuras
as que parecem embaixadores do lugar
e não passam de seus octogonais coveiros.

Eles são a deletéria candeia
o apocalipse encomendado
a espada afiada que desce sobre os imprudentes
a provada finitude dos lugares meãos.

Dizem que foi um adeus.

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