21.12.18

Pólvora

Não é por motim
que ordeno o silêncio
interior.
As teias urdidas no gasto tear
cobram o seu preço 
e os tapetes violetas não chegam
para sossegar os medos.
A fogueira crepita
na viva combustão nutrida.
Olho para os contrafortes do sono
onde se balizam os limites do nada
e sirvo em cálice a saliva
os juros das palavras silenciadas.
Sei que a noite amedronta.
Sei que à noite
a solidão parece um gigante
as suas largas patas espezinhando
o fértil chão agora sem uso.
Não é por mim
que arvoro as estrofes hirsutas
e que contrato druidas sem rosto.
Não é por motim
que digo não.
Na acastelada sucessão de leis
desordenam-se os sacerdotes
por “inútil superveniência”.
A escadaria arde
num fogo brando, 
insistente:
a lógica ensina qualquer coisa
mas o motim
levou a memória.

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