I
A boca aberta
excessivamente aberta
dos osteopatas das farsas
retrocede ao paleolítico
quando as fraldas ainda eram de pano
e as gaivotas não eram omnívoras.
II
Garante-se
a cova de um dente
sem míngua de mantimento;
tanto chega
no bazar da modéstia
sem confusão com a monástica condição.
III
Um truque não é um ardil
– protestava o diletante
enquanto o vento subia pelas pernas
e a maresia combinava um almoço
com o luar.
IV
Na linha de fogo
a língua de trapos
manifestamente gongórica
folcloricamente erudita
no divã do psiquiatra sonolento.
V
A sede do dia rivaliza
com a penhorada súplica por inverno
na contrafação dos calendários
e em contravenção
com a maré estabelecida.
VI
Tenho sede
num palácio que aspira a sê-lo
e orgulho no desorgulho que tenho
nas bainhas gastas de um povoado liquefeito
sem sombras por parapeito
e com garraiadas com toureada gente.
VII
Podiam ósculos ser dieta capaz
mas arriscamos a sua banalização
e eles merecem tratamento a preceito
em vez de flácidas trompas
ecoando melancólicos estribilhos gastos.
VIII
Se dissesse
“estou feito num oito”
compulsava-se a comiseração
a detestável, piedosa comiseração
e assim digo que estou feito num quatro
(ou num dois,
se me for dado a intuir
que meia dose de comiseração
é trazida à mesa).
IX
As mangas descidas
patrocinam a pueril encenação
onde circenses figuras
se entaramelam em jogos florais
o reduto do humor sem humor.
X
Se houvesse tempo
os adágios seriam boicotados
alfandegados em pirâmides sem vidro
à espera da desmemória sua sepultura.
XI
Não paguem dívidas sem escol
que os incorrigíveis agiotas da alma
não perdem pela demora
mal se franqueie a porta do lúgubre lugar
a que destinam os imprestáveis.
XII
Juras sem notário
são as que sobem no mercado
na fecunda, verosímil varanda
onde se congeminam as vontades.
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