19.12.18

Vias de facto

A vergonha não é órfã
sitiada no peito exposto
aos ventos alheios.

Torci pelo perseguido
não suportando maiorias
em diatribes moralizantes.

Caí na transgressão
num leito de pura provocação
o gratuito berro ecoado ao ouvido.

Nas descidas inclinadas
onde se antepõe a decadência
quis amesendar a preceito.

Intuí a delicodoce liberdade
o despojamento sem peias
a dor sarcástica da carência.

Folguei no folguedo
nas variedades proibidas
e não transigi aos costumes.

Da trincha empreendi
e das tintas usei
para dizer que nas tintas estive.

Nos colóquios apessoados
apeteciam andrajos
e a nuvem da higiene em falta.

Não será um fartote de rebeldia
que se me dizem rebelde
logo apetece alinhar pelo canónico.

Chamem-lhe (por assim dizer)
espírito de contradição
apurado com o andamento do tempo.

Espírito de contradição concentrado
depurado com a madurez
contra as aleivosias determinantes.

Pelo gosto de dizer não
quando suplicam o sim
e sim quando esperam o não.

Pelo dever de apaziguar
os demónios que se alimentam das veias
incensando-os nas cinzas transcendentes.

Até de mim saber paradeiro inteiro
o fôlego incansável
refugiado no cais longínquo.

Até de mim sobrarem 
(quem sabe)
epitáfios sublimes, silêncios.

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