I
As coisas sem nome
projetos inválidos da boca pálida
um trajeto emudecido
na sombra das árvores.
II
Os nomes não demandam as coisas
não sabem os seus nomes
no paradeiro incógnito que as mareja
na simbiose dos frutos.
III
Os nomes não querem nomes outros
se não a macieza da pele abraseada
e o dorso onde cavalgam os verbos
sem o despeito da angústia.
IV
Dizem das coisas apalavradas a um nome:
são um santuário proibido
a fantasia turvada num sonho
um pedestal sem deuses.
V
São os nomes próprios
onomatopeia que se densifica fora do desenho
num atropelo da gramática
fusão inverosímil dos ascetas e dos boémios.
VI
Os nomes e as coisas são ímpares
na matemática hermética do desconhecido
em circulares convulsões
nos estereótipos à procura de lugar.
VII
Quadrassem as coisas todas com nomes
os sortilégios deixavam de estar ao vocabulário
e os homens adormeciam sob a monotonia
enquanto o jogo se fazia fora do tabuleiro.
VIII
Não há verdadeiramente coisas sem nome
menos as que estão por descobrir
que os nomes são sempre ávidos
de serem apóstolos à procura de enredo.
IX
As coisas sem nome
são metáfora excruciante
o logotipo encerado dos apóstatas
submersos numa apneia.