10.7.19

Cortina de espelhos

Esconjuro 
as rodas encravadas
na engrenagem que congemino.

Um sussurro
desvenda as cortinas vetustas
no solitário bocejo da noite.

Antevejo
nas escadas íngremes
o absoluto encantamento do verbo.

Revejo
as páginas idas
no mirífico campo do silêncio.

Entardeço
no irreprimível movimento do tempo
sem capitular aos demónios invisíveis.

Arroteio
uma montanha milenar
no refúgio que se intui exigível.

Escondo
a matéria pútrida
dos olhos vivos que são juízes.

Perdoo
ao tempo contumaz
as cicatrizes legadas à pele.

Preparo
o chão gasto
para os pés nunca cansados.

Não corrijo
os contratempos de que fui tutor
por do arrependimento não ter saber.

Não escondo
as mágoas enquistadas
sob o esquecimento armado.

Não resisto
ao ocaso sibilino
a página-entrelinha que dita o segredo.

Não me oponho
ao verdugo da fala
se por ele se desmatar a fala mundana.

Não digo não
se o não for o cais sereno
onde repousa o rosto exangue.

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