19.7.19

Ensarilhado

Este é o meu desmodo:
um arquipélago hasteado
na frontaria do ocaso
e um banco de ardósia
onde cimento meu pesar. 

Tirei as teimas
contra o improvável bocejo
dos deuses reduzidos à inexistência. 
Sabia que podiam ser magoados
mas essa não era minha mágoa. 
Cuidei do sentido olhar imaterial
ou, por assim dizer,
a digressão sobre a teórica conceção
onde se antecipa o pretérito.
O arquipélago era o refúgio 
depois
de extensas camadas de terra de ninguém
e as vozes iradas faziam o que podiam
em suas metáforas inacabadas,
seus proverbiais monólogos. 

Não queria saber de nada disto. 

Juntei as mãos
juntei-as
ao constante desvelo pelo mundo
e sem o contratempo que desfigurava a memória
pareceu-me que o espelho
devolvia algo admirável. 
Não era eu, contudo:
continuo sem remédio
esgotado na fogueira
onde se consome o vão estipêndio da memória
inseguro na consumição das inseguranças
que nem amaldiçoadas se alijam 
da fronteira onde deixo de ser eu. 

Se ao menos 
o arquipélago não fosse cercado por água
podia chamar a mim um reino,
um reino que fosse,
miserável, 
mas reino enfeitado 
pelo segredo de que seria tutor. 

Não contei 
com a desmedida da ousadia
e o arquipélago foi tomado
pelo mar enfurecido.

Tal foi o meu desmodo
não incensado nas arcadas do medo.
E às vezes digo,
quase como se fosse um lamento:
antes fosse, 
o medo.

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