12.7.19

Fora do tempo

Não tinha noção do tempo
na contabilidade desassisada dos válidos,
se aos válidos fosse pedida noção.
Preferia outra moção:
faria do tempo
a enseada por onde,
gota a gota,
ao mar seria dada entrada,
sem o apressar nem dilatar
(o tempo).

Uma clepsidra disfarçada de sereia
quis repudiar a hipótese
procurando alternativa no roteiro 
das meãs possibilidades.
Ocultavam,
tais possibilidades,
um tempo que era um enredo em forma de farsa
com um palco sedutor
narrativa solenemente hasteada
o idioma nunca lesado em seu domínio 
muito ouro ungido dos dedos
– tal como o disfarce envergado pela clepsidra.
Mas era um tempo farsante,
um logro de um tempo vazio
sobrepondo-se ao tempo não avarento.
Rejeitei os solilóquios encenados
na bela fazenda arroteada com cores de néon.

Fui a tempo
de não me achar
fora do tempo.

Fiquei com a impressão
de saber da medida certa do tempo.

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